terça-feira, 10 de maio de 2011

13 de maio: escravistas continuam atuantes.


                    No dia 13 de maio de 2011 completam-se 123 anos da assinatura da Lei Áurea, que tornou ilegal a escravidão no Brasil. As elites escravocratas tornaram essa data oficial, comemorada como o dia da "libertação" dos escravos.
                    Conscientes da farsa e da manipulação da história para impor ao país a ideia de uma "democracia racial" que nunca existiu, o movimento negro, na década de 1970, a partir da sugestão do poeta Oliveira Silveira, elegeu o 20 de novembro como sua principal data, em alusão à morte do grande general Zumbi de Palmares. Concomitantemente, em nome de todos os negros brasileiros, o 13 de maio foi renomeado como "Dia Nacional de Denúncia contra a Discriminação Racial".
                    Como resultado da incansável luta dos descendentes de milhões de africanos sequestrados e escravizados, ocorreram conquistas significativas no combate à discriminação e a marginalização à que foram vítimas daquela data até os dias de hoje. Homens e mulheres negras ocupam inúmeros empregos com boa remuneração, em que pese todos os empecilhos colocados pelo racismo estrutural da nossa sociedade. Estamos nas universidades, no Poder Judiciário, no Legislativo e no Executivo e dirigimos importantes organizações sociais.
                    Importantes atos simbólicos como a nomeação de ministros e ministras negros e o pedido de desculpas, em território africano, pelos crimes de lesa-humanidade que o Estado e as elites brasileiras praticaram contra os africanos se somaram a iniciativas concretas que impactaram a vida de milhões de famílias negras.
                    A criação da SEPPIR - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, o estabelecimento de uma série de políticas afirmativas, o reconhecimento e titulação das comunidades remascentes de quilombos, a promulgação da Lei 10.639 - passando a incluir a história da África e dos negros no Brasil nos currículos escolares são alguns exemplos.
                    Esse conjunto de conquistas, entretanto, é absolutamente insuficiente e está a anos luz de compensar os três séculos de trabalho escravo e mais de cem anos de discriminação e exclusão social. Muito ainda precisa ser conquistado para que possamos afirmar que negros e brancos têm oportunidades e são tratados de maneira igualitária em nosso país.
                    Esse comportamento hipócrita das elites por si só reforça a antiga tese de que no Brasil a questão de raça e classe devem caminhar juntas, pois a totalidade da elite exploradora - tanto no escravismo como no capitalismo - é branca e a significativa maioria da classe trabalhadora é composta por negros e mestiços.
                    Nada mais natural, portanto, que a CUT nesse 13 de maio venha se somar a luta contra a discriminação racial e, ombreando-se com o movimento negro, com as centrais sindicais e movimentos sociais, alerte para o perigo de retrocesso e encampe todas as lutas contra o racismo, sem o que jamais teremos a verdadeira emancipação do nosso povo.
                    Pela aprovação da versão original do Estatuto da Igualdade Racial!
                    Pela aprovação da constitucionalidade e justiça da política de cotas!
                    Por uma sociedade sem racismo!
                   Nada mais natural, portanto, que venhamos todos - movimentos sociais, sindicalistas, educadores,... - somar a luta contra discriminação racial - para que conquistemos verdadeiramente a emancipação do nosso povo.




Ancestralidade.


Ancestralidade
 (de Birago Diop)

Ouça no vento
O soluço do arbusto
É o sopro dos antepassados...
Nossos mortos não partiram
Estão na densa sombra...
Os mortos não estão sob a terra
Estão na árvore que se agita,
Na madeira que geme,
Estão na água que flui,
Na água que dorme.
Estão na cabana, na multidão
Os mortos não morreram...
Nossos mortos não partiram
Estão no ventre da mulher,
No vagido do bebê e
no tronco que queima
Os mortosnão estão sob a terra.
Estão no fogo que se apaga,
Nas plantas que choram,
Na rocha que geme
Estão na floresta
Estão na casa
Nossos mortos não morreram.

(Memorial dos Lanceiros Negros - 14/11/2004 - Encontra-se no cerro dos Porongos)